quinta-feira, 30 de junho de 2016

Bora Ouvir O Rappa – Registro (Ao Vivo na Rocinha)?








É o meu aniversário e O Rappa foi convidado para a festa!


Tem mais prosa sobre o meu aniversário lá no Blog Fazendo um Projeto dar Certo:




Eu virei fã dO Rappa na época da faculdade, ouvindo a rádio Jovem Pan e indo para os shows no Ceará Music.








Aprendi a gostar do som dos caras que é bem peculiar. Além, claro, da mensagem social das letras. Aquela coisa da luta de classes, das dificuldades da favela e do pensamento positivo.


Foi uma das coisas boas que eu consegui “transmitir” para o meu irmão mais novo – Pedro Ernesto.


É um show dO Rappa na Barraca Biruta, na Praia do Futuro, em Fortaleza. Areia fria, maresia, som alto pra caralho e a galera toda na vibe. Você ainda pode ir ouvir o mar depois do show. É um dos grandes momentos da vida. (Apesar do medo que eu sempre tenho que a maré vai encher e nos pegar bem no meio do show).









Eu sou baixinho e claustrofóbico – gosto de ficar lá no fundão para ouvir um som mais limpo e ter espaço para dançar. Além de estar mais perto de bares e banheiros. Eu vou a um show para ouvir um artista e não necessariamente para vê-lo.


Tem gente que jura que show de reggae ou dO Rappa só dá maconheiro. Eu garanto que é só preconceito besta. Embora, admita que o consumo é bem elevado. Eu já passei alguns apuros com olhos vermelhos, garganta irritada ou dor de cabeça. (No fundão, é mais arejado hehe).


Teve um ano no Ceará Music que a fumaceira cobriu o palco. Eu até pensei que era gelo seco, mas não fazia sentido, pois não dava mais para ver a banda. Foi quando o Falcão parou o show: “ô galera, vamos dar uma maneirada aí, porque eu não estou conseguindo cantar.”. Foi surreal!








Em abril, eles estiveram em Fortaleza. Mas eram coadjuvantes no meio de um show de axé com sertanejo. Eu achei muito arriscado e não fui.


O último causo que eu vou contar aconteceu no “Férias no Ceará” – um projeto do governo estadual com grandes shows de graça em um local incrível, o anfiteatro do Parque do Cocó.


Eu tinha comprado um carro zero há uns 3 meses e ele iria para o seu primeiro show. Ingênuo e sem opções, deixei o carro em uma rua próxima, adiantando cinco reais para o flanelinha (guardador).


Quando a gente voltou com a adrenalina a mil depois de mais de duas horas de um showzaço: frustração, medo, revolta, raiva…


Apertei o alarme e o carro não respondeu. Dei na chave e nada. Os flanelinhas tinham feito um rapa em todos os carros da rua. (E olha que eu odiava quem fazia esse trocadilho). Eu tive um dos menores prejuízos já que só perdi duas bolas de futebol e umas roupas da minha mãe que estavam no bagageiro.


Eu lembro que a gente foi no guincho para uma oficina 24 horas reconectar o cabo da bateria. Eu e o Pedro demos um rolé em Fortaleza dentro do carro, em cima do guincho. Surreal! Eu lembro que eu sempre achava que o carro ia bater no caminhão e fui a viagem inteira assustado e pisando no freio. Muito louco!








O Rappa – Registro (na Rocinha)


É um DVD discográfico de 2010. O Registro.


Obviamente, tem o “defeito” de não ter alguns hits mais recentes, como “Anjos” e “Auto-Reverse”.


Mas eu posso cornetar a falta de “A feira”, “Fininho da vida”, “Eu quero ver gol” ou “Na frente do reto”.


O vídeo abaixo não tem imagens – mas o Falcão dá algumas pistas do visual do show, em um lugar inspirador. Eu me senti tentando ver o mundo como os cegos. E me lembrei dessa poesia do livro Miragens:




Vendo ou não, você vai sentir a energia do “ao vivo”. A galera pulando e cantando!


E O Rappa está lançando mais um CD ao vivo, dessa vez em Recife.


Compartilhe o blog. Compartilhe músicas boas com a gente.


Sobe o SOM!






A partir daqui, eu vou palpitar por todo o setlist, lançando alguns tuítes com as letras dO Rappa. Vem comigo!


7, 6, 5, 4, 3, 2, 1… O RAPPA TÁ NA ROCINHA!


A vibe já começa muito boa com o hip hop do DJ Negralha saldando a galera. Acabou a espera, acabou a angústia… Concentra, que o show vai começar!


Sou quase um cara
Não tenho cor, nem padrinho
Nasci no mundo, sou sozinho
Não tenho pressa, não tenho plano, não tenho dono


Meu mundo é o barro já abre o show a mil por hora. Música do disco 7 vezes, de 2008, quando O Rappa já era um sucesso de público e de crítica. É a banda se mantendo firme no seu espírito criativo.


A chama da vela que reza
Direto com o santo conversa


Reza vela vem chegando e já manda a primeira onomatopeia (larara…) pra geral cantar junto! Ainda bem, né? Porque é bem difícil cantar a letra toda que é muito acelerada em algumas partes.


O que te guarda, a lei dos homens
O que me guarda, é a lei de Deus
Não abro mão da mitologia negra
Pra dizer eu não pareço com você


Vira o disco com Lado B lado A e vira mesmo porque eles mandaram uma versão incrível. Mais calminha, com muito hip hop, pra galera respirar um pouco. Mas só vale se você cantar forte, com muita raiva e com os dedos apontados: “eu não pareço com você”. Eu até gosto de completar com “seu FDP”.


Sentia proteção infantil
Mas permanecia assustado
Acuado em situação-hiena


Essa música dá prosa porque eu não gostava dela no disco. Pulava mesmo, sem cerimônia. Mas depois dessa versão ao vivo, Hóstia virou uma das minhas músicas favoritas dO Rappa. A introdução com o baixo é de matar. Eu aprendi a gostar dessa música mais pelo meu irmão Pedro Ernesto.


Só misturando pra ver no que vai dar
Cor da pele? FODA-SE


Pra valer o ingresso mais ainda, só mandando um “foda-se” bem alto e coletivo. Contra qualquer coisa, mas no Homem amarelo é contra o racismo. Um som bem conceitual dO Rappa que talvez só os mais fãs vão entender. Uma música que tinha quase 10 minutos no primeiro disco ao vivo que eu comprei. Misturar é muito massa, misturar é o que há.


Uma onda segue a outra
Assim o mar olha pro mundo


É o verso mais bonito da música brasileira. É o Mar de gente das nossas metrópoles não planejadas. Essa faz geral subir, pular, cantar alto e com toda a energia da alma. É um dos vários (?) clímax do show!


Se era bom ou ruim
Tava aquém de mim


Documento me obriga a repetir o que eu falei antes sobre música que eu só aprendi a gostar no ao vivo. Nos passa também uma mensagem de “sossega aí” porque há várias coisas que não estão sob o nosso controle.


As grades do condomínio
São para trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão


Minha alma (a paz que eu não quero) é um grande clássico dO Rappa que esteve por vários anos nas 7 melhores da Jovem Pan. Era quase impossível eu ir pra escola sem antes não ter ouvido essa música. Uma das lembranças de quando eu morei no São Cristóvão. E quem não conhecia a batida dO Rappa, prazer, Minha alma!


Vejo a minha história com a sua comungar
Vejo a história, ela comungar


Se o show do artista já é uma comunhão de fãs, se um show de rock já é pra cantar alto, o refrão de Monstro invisível joga a galera toda lá em cima. E quem não tem os seus monstros invisíveis?


Hey joe
Esse não é o atalho
Pra sair dessa condição


Jimi Hendrix estava inventando o rock e o Rappa foi beber nessa fonte para fazer a sua versão de Hey Joe. Para mim, a música é especial, pois foi assim que eu conheci a banda, através de um CD de pop rock distribuído pelo Boticário. Bendito perfume que me deu O Rappa!


Se eu quiser fumar eu fumo
Se eu quiser beber eu bebo
Eu pago tudo que consumo
Com o suor do meu emprego


O inusitado se reafirma quando uma banda de rock pega o pandeiro e puxa um samba de Zeca Pagodinho no meio do show. São as Maneiras dO Rappa espalhar a sua mensagem e de deixar a galera respirar um pouco. E cá pra nós, essa letra é um “não se meta na minha vida” perfeito!


De geração em geração
Todos no bairro já conhecem essa lição


Tribunal de rua é uma mensagem dura contra a violência policial sobre os “favelados” pretos e pobres. Está bem atual no momento em que temos alguns juízes se achando super-heróis e fazendo perseguição política descarada, com a benção da imprensa. Registro também a reinvenção dO Rappa trazendo uma versão muito bacana da música.


Vou me benzer
Vou orar
Vou agradecer
Vou me rezar


E o baixo sobe e chega até a Linha vermelha. Música que eu não conhecia e aprendi a gostar demais depois dessa versão ao vivo.


Meu santo tá cansado
Não vou dizer que tenho saldo sobrando
Não tô devendo, mas a vida de homem é assim mesmo


Meu santo tá cansado é isso mesmo. Quando a gente sente que tá abusando do santo, abusando da sorte e sendo muito protegido. Também gosto de usar pra dizer que eu mesmo estou muito cansado. É rock pesado e com onomatopeia para acordar a galera depois do setlist mais intimista. E eu não sou “herói cuzão”.


Faltou luz mas era dia, o sol invadiu a sala
Fez da TV um espelho refletindo o que a gente esquecia


Falando em onomatopeias e em animar a galera, chega O que sobrou do céu. A galera vai ao delírio com esse hit e o chão balança. Não tem como explicar aqui com palavras, só estando lá você vai entender. É tipo “pula, pra valer o ingresso”! A música nos provoca sobre o nosso modo de viver com tanta eletricidade e eletrônicos.


Ô Ô Ô Ô Ô my brother


Porra, quem nunca mandou um “Ô Ô Ô Ô Ô my brother”? Até Maria Rita mandou! É o Rodo Cotidiano, retratando o transporte duro da massa trabalhadora. Pode ter certeza que a geral vai pular e cantar muito. O justo seria sair e pagar outro ingresso!


O que é que tá pegando?
Qual é negão? Qual é negão?
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro


Todo camburão tem um pouco de navio negreiro é conceitual ao extremo. Conceitual na batida de rock com reggae com hip hop e conceitual na caneta. Uma letra que põe o dedo na ferida. Realmente, a escravidão acabou no Brasil? Somos um povo racista?


Saber perder é, saber perder é, saber perder alguma coisa pra sobreviver


E chega o sétimo disco dos caras: 7 vezes. A banda vive. Há músicas, há ideias. Viva O Rappa! 7777 vezes O RAPPA!


Mas se você ver em seu filho
Uma face sua e retinas de sorte


O salto também é música conceitual (para fãs). Rock muito pesado que eu lembro que incomodava muito aos vizinhos.


Sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer
Que eu não acredito mais em você
Eu não preciso de muito dinheiro,
Graças a Deus
E não me importa, e não me importa não


Quando até Gal Costa sobe o som, os últimos resistentes tiram o chapéu. É o Vapor barato dO Rappa.


Violência demais, chuva não tem mais,
Roubo demais, política demais,
Tristeza demais. Interesse tem demais!
Ganância demais, fome demais,
Falta demais, promessa demais,
Seca demais, chuva não tem mais!


Segundo a crítica de música Tânia Gregório (my mother), eles estragaram a música de Luiz Gonzaga. Que ela não me bata, mas eu penso um pouco diferente. Eles fizeram uma versão muito original e inusitada e apresentaram esse hino a uma nova geração. Uma música sempre atual em um país agricultor, brigando o tempo todo com secas e enchentes. É o Ceará na mídia. É a Súplica cearense!


Me deixa que hoje eu tô de
Bobeira, bobeira


Pra não perder o hábito, eu vou cornetar. Corneto Me deixa. Música “modinha”, música “malhação”, música “de adolescente”, música “pegajosa”, música de “quem não é fã”. Não é culpa deles. Mas eu acho que essa música ficou muito pegajosa e meio artificial no público. É a Ana Júlia deles.


Se meus joelhos não doessem mais
Diante de um bom motivo
Que me traga fé, que me traga fé


Se por alguns segundos eu observar
E só observar
A isca e o anzol, a isca e o anzol
A isca e o anzol, a isca e o anzol
Ainda assim estarei pronto pra comemorar
Se eu me tornar menos faminto
Que curioso, curioso
O mar escuro, é, trará o medo lado a lado
Com os corais mais coloridos


Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões (bis)


Se eu ousar catar
Na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final
Sem final, sem final, sem final, final


Pra sair do modismo e da cornetagem: Pescador de ilusões. Uma poesia belíssima, para quem gosta de poesia. Uma música belíssima, para quem gosta de música. Pra chorar, pra se emocionar, pra lembrar das suas dificuldades, para cantar alto e pular com a geral. Valeu a pena! Sempre correndo em busca dos nossos sonhos.


Que bloco é esse? Eu quero saber.
É o mundo negro que viemos mostrar pra você (pra você).
Branco, se você soubesse o valor que o preto tem.
Tu tomava um banho de piche, branco e, ficava preto também.


Fechando o show bem demais: Que bloco é esse? Versão animal dO Rappa pra uma música animal do Ilê Aiyê. Embora, eu ache mais animal a versão da Daúde:






Post Scriptum
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Ei, psiu, se liga…
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